sexta-feira, junho 8

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Tempos Modernos (parte 3)




 
              Boa noite leitores!
              Como prometido, pela segunda parte ser pequena, hoje mesmo já estou postando a terceira parte do conto Tempos Modernos. Para quem não teve a oportunidade de conferir, segue o link abaixo:

Tempos Modernos Parte 1
Tempos Modernos Parte 2

Aviso: Acabaram as censuras. xD



Autor: Leon S. Vellasco
Twitter: @Lucianovellasco


Tempos Modernos

III – Filho das Trevas

             O homem recém-saído do caixão inspirou fundo estufando o peito e erguendo o rosto, como se farejasse o ar e alguns segundos depois seu olhar seguiu em direção a fonte daquilo que o chamou atenção: sangue na tampa do caixão e na mão ferida da garota. Colocou um pé para fora do caixão e depois o outro. Os mortais a sua frente haviam dado dois passos para trás ante sua movimentação e já estavam quase fora de sua cripta. Sentiu os dois tremendo de terror e sorriu. Por um milésimo de segundo Jessica imaginou ter visto dentes pontiagudos. O medo provavelmente estava lhe pregando peças.
            - Delicioso... – ele sussurrou ainda inspirando o ar. Sua voz tinha um timbre sedutor e suave. Ao mesmo tempo ― Jessica percebeu embasbacada ― malícia genuína. Sabia meio que por um instante que ele estava falando diretamente com ela.
            Max por um momento achou que o comentário fosse para ele, mas rapidamente tirou isso da cabeça ao notar que aquele maluco secava sua namorada de um jeito tão escrachado que chegava a incomodar. Ele não sabia se foi pela surpresa ou pelo susto, mas só agora se lembrou de que os dois estavam nus. Isso explicaria o fascínio dele por sua namorada. Recuperado do baque inicial, postou-se a frente de Jessica formando um escudo humano. Se ele quisesse olhar alguma coisa, teria de olhar para ele.
            - Apetitoso... que cheiro mais adocicado! Sinto o cheiro da juventude, da vaidade e da avareza em você, mortal.
            - Você está bêbado, cara? – indagou Max. Jessica atrás dele flexionava o corpo para a esquerda para poder olhar para aquele homem misterioso. Ainda estava muito escuro, não conseguia não conseguia enxergar sua fisionomia
            - Estou desperto mais uma vez. O mundo novamente me temerá! – continuou o homem, ignorando a pergunta de Max. – Quantos anos devem ter se passado de meu longo sono?
            - Esse cara está completamente bêbado! – vociferou Max irritado com o falatório do homem e deu um passo a frente em sua direção.
            - Em que ano estamos, mortal? – indagou o homem ameaçadoramente fazendo Max congelar onde estava.
            - 2012 – respondeu Jessica automaticamente, ela só percebeu que havia respondido quando viu Max olhar para ela com o rabo de olho.
            - 2012... bastante tempo... – ele devaneava.
            - Cara, você é muito esquisito! – estava decidido a dar uma lição nele por atrapalhar seu momento de prazer. – Seu showzinho de merda acabou. Saia da minha frente, senão...
            - Esquisito? – o homem cortou as palavras do rapaz e cravou seu olhar nos olhos de Max que não conseguia enxergar nada mais que o vulto de seu corpo. Talvez por conta disso seu medo não crescera a ponto de dar meia volta e sair correndo dali. – Você está nu em um cemitério e eu sou o esquisito? Você estava fornicando em cima de um caixão e eu sou o esquisito? – e olhou para baixo, para o membro de Max que estava rijo, enrugado e encolhido devido ao frio da noite. Não pode deixar de sorrir com aquilo. “E ainda por cima não honra o que tem entre as pernas”, pensou.
            Max ficou mudo.
            - Acredite – ele continuou –, já vi mais criaturas deitadas em um caixão do que os anos que você tem de vida, mortal. Fornicação em um cemitério é novidade para mim! Os humanos são tão arrogantes e desrespeitosos... nem mesmo a morada daqueles que passaram pela foice da morte e descansam no sono eterno vocês respeitam!
            Max encarava o vulto com um misto de vergonha e raiva. Quem ele pensava que era para falar com ele daquele jeito?
            - Agora já chega! – mais um passo e estava a menos de um metro do homem. – Ou você vaza daqui agora ou eu te encho de porrada!
            Jessica não tentou impedi-lo, nem incentiva-lo. Estava tão pasma com a cena que não esboçava reação alguma. Sua mente vagava entre o real e o imaginário. O caixão, a pergunta, a voz, as expressões... não poderia ser real aquilo. Ou poderia? Estava confusa.
            Max flexionou o braço para trás, depois para frente, desferindo um potente soco destinado ao rosto do individuo. Ele iria aprender a não mexer com ele. Iria sentir o gosto da dor e ir chorando de volta para a cova. Se havia pessoas que ele odiava eram os “esquisitos” e aquele de longe superava todos os amigos e amigas de sua namorada. O punho cortou o ar e um instante depois já tocava a pele do homem, no instante seguinte o impacto, e no instante seguinte o pavor: havia uma mão segurando seu punho. A mão fechou-se contra o punho e começou a apertá-lo. Podia ouvir os ossos de sua mão rangendo contra a pressão da pegada. Depois veio a dor. Max segurou-se como pode para não gritar de dor. Quando foi que a mão dele parou ali? Um segundo ele estava ali imóvel, pronto para receber seu soco. À medida que a pegada ia aumentando a pressão, o corpo de Max arqueava para trás e para baixo e em sua expressão havia puro terror. Aquele homem não tinha físico de homem musculoso, Max já havia brigado com muitos caras “bombados” e nunca tinha visto alguém aplicar tamanha força. Forçava o braço, tentando livrar-se da pegada, mas era inútil.
            - Você não me teme... – comentou o homem. – Você não sabe o que eu sou não é? Tantos anos de reclusão devem ter apagado de suas memórias primitivas o terror que minha espécie propaga.
            Então algo surreal aconteceu. Dois pontos vermelhos começaram a surgir do lugar onde deveria estar os olhos do sujeito. A intensidade do brilho foi aumentando e logo se tornou um par de brasas vermelhas. Max agora conseguia ver o rosto do homem: a pele era pálida, o rosto delineado e livre de imperfeições. Os olhos eram tão surreais que sua atenção estava total e completa para eles.  Então ele abriu a boca... Max pode ver dois caninos que, de tão afiados, pareciam produzir um brilho próprio. O rosto começou a aproximar-se do seu. Lutava para se livrar, não conseguia. O rosto mais perto. Medo. Aquilo não era um bêbado, não era um esquisito, era alguma outra coisa que fugia de sua compreensão. Mais próximo. A boca mais aberta. Os caninos almejando seu pescoço. Começou a implorar. Urina escapou do seu corpo. Pedia para ele parar. Mas ele não o escutava. Iria morrer. Era o fim.
            - Você é um Vampiro! – esgoelou Jessica e o homem parou a centímetros do pescoço de Max. – Você é um vampiro... – não era medo que ela sentia. Curiosamente ela estava mais empolgada que com medo do homem.
            A pegada afrouxou. O homem mirou Jessica com interesse.
            Então ela sabe?
            Ele largou a mão de Max e endireitou o corpo. Havia perdido o interesse pelo mortal medroso. A mulher nua a sua frente era infinitamente mais atraente e parecia ter conhecimento sobre sua raça.
            - Então você conhece a mim e meus semelhantes...
            Max, ainda alisando a mão machucada, aproveitou a chance e correu para onde estava Jessica. O homem não impediu seu avanço. Seu fascínio pela garota era tamanho que até a vontade de "lanchar" ele havia deixado de lado.
            - Vamos embora! – Max gritou pegando a namorada pelo antebraço.
            - Não. – ela disse. – Eu vou ficar.
            - Você ficou maluca? Esse cara queria me matar! – e então ele observou que Jessica não o olhava, não dava a mínima para o que ele estava dizendo. – Que se foda! Eu vou vazar daqui – e começou a correr em disparada pelo cemitério. Não fosse o medo que estava sentindo, seria cômico pensar que estava correndo pelado em um cemitério.
            - Qual o seu nome? – ele inquiriu dando dois passos à frente, deixando sua morada.
            Jessica agora conseguia vê-lo perfeitamente. Um homem alto, de pele pálida e rosto bonito. Tinha um incrível ar de sedutor. Usava apenas uma calça preta, um modelo que ela nunca tinha visto na vida. O torço nu era largo e delineado, quase como se tivesse sido esculpido. Os braços sugeriam alguém que dispensa o tempo e a dedicação exata numa academia para conseguir músculos trabalhados na medida certa. Os cabelos negros estendiam-se num ondular levemente rebelde até um pouco abaixo do pescoço. O rosto mostrava um homem maduro, na casa dos 30 e poucos anos, com feições garbosas e másculas. Uma aparência que certamente arrancava suspiros no mulherio.
            - Jessica – ela respondeu embasbacada. Estava tão emocionada que o máximo que conseguia era responder suas perguntas.
            - Jessica, abraçada pelo senhor... – era o significado do nome. – Um nome bonito, para uma dama bonita – e seus dedos passaram suavemente pelo queixo da garota. Ela imediatamente recuou a cabeça, a mão dele era tão fria... quanto a morte.  Está frio aqui fora. –  Ele observou que a garota tremia de frio. – Coloque sua roupa, não quero que esse corpinho fique frio antes da hora – Jessica apenas aquiescia. – Enquanto isso vou buscar nosso amigo fujão. – ele disse. Jessica piscou os olhos e ele não estava mais lá.
            - Um vampiro... meu Deus, eu falei com um vampiro!
             Max corria tão rápido quanto suas pernas permitiam. O que havia ocorrido ali? Quem era aquele cara? Porque dos olhos vermelhos, da força descomunal e dos dentes? Nada fazia sentido para ele. Iria vazar dali o quanto antes. Jessica era uma idiota por ficar lá. Maluca. Aquele cara era perigoso. O medo era tanto que ele nem ao menos sentia arrependimento. Suas pernas estavam ensopadas de urina, mas não se importava. Perdeu uma disputa de força com um cara com uns 20 quilos a menos que ele, mas não se importava. Sua namorada ficou para trás, mas ele não ligava. Só queria chegar em casa e esquecer o que havia acontecido. Maldita ideia de transar em um cemitério! Agora o motel lhe pareceu uma escolha bem mais prudente. Transar em uma igreja seria mais sensato que aquilo. Não transar teria sido mais sensato! E ainda por cima estava pelado! Como iria explicar isso quando chegasse em casa? Como explicar que deixou para trás Jessica? Como se desculpar com ela no dia seguinte? Se é que ela chegaria a ver a luz do dia. Uma forte pergunta assaltou sua mente: é se ele a estuprasse? A pergunta veio com um soco no estômago. Ele era um homem! Não podia simplesmente dar as costas para a sua namorada e larga-la a própria sorte! Seus instintos primitivos de dever e proteção fizeram suas pernas perder o ritmo da velocidade e logo ele parou por completo. Estava a menos de cinco metros do portão.
            - Tenho de voltar! – ele decidiu e girou nos calcanhares.
            Pavor.
            O tal vampiro estava a menos de cinquenta centímetros de seu rosto.
            - Não foi nada bonito fugir abandonado sua fêmea – um segundo depois já erguia o corpo de Max do chão como se seu peso não tivesse significância alguma. – Mas não se preocupe... irei cuidar bem dela para você.
           Max tentou dizer alguma coisa, mas o ar fugia de seus pulmões em velocidade assombrosa. O aperto impedia que qualquer som saísse de sua boca.
            - Adeus e obrigado pela dica, fornicar em um cemitério é uma ótima maneira de aproveitar a noite  – e cravou seus dentes no pescoço dele.
            Sangue adentrou a boca do vampiro que se deleitava com o néctar que o mantinha “vivo” no mundo. Max debatia-se, chutando-o com fúria, mas não conseguia livrar-se dele. Sua força era de longe superior a sua. Após um minuto de luta o sanguessuga sentia-se satisfeito. Segurou o pescoço de sua vitima e o som de osso quebrando ecoou na calada da noite. As penas de Max estavam suspensas no ar, inertes. Não mais se debatiam em desespero. Seus olhos fitavam o vazio. A foice da morte passou sobre sua alma e a levou embora.
            Estava morto.


Parte 4: Os Falsos (em breve).




9 Bilhões de Comentários:

  1. O cara invade o cemitério pra fornicar e ainda fica puto porque o vampiro atrapalhou seu momento de lazer? Esse mereceu o que teve. Mas e a Jéssica? O que será dela?

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  2. Mereceu, eu ainda acho que o Vampiro demorou para dar um "Finish Him" nele. xD
    Descobrirá no próximo capítulo de Tempos Modernos meu caro. (e o porque do nome do conto ser esse). xD

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  3. como descobre se vc ñ coloca logo a outra parte !? u.u
    seus leitores estão anciosos xD.

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  4. =DDDDD Muito massa... tadinho do Max,não gritou de dor mas demonstrou medo da pior forma, e nem teve as calças para molha-las xDDD Estou ansiosa para a 4 parte

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  5. UAHSAUHSAUHSAUHSAUHSAUSHUSH' Aiai humanos u.ú
    Adorei o vampiro que você criou *o*
    E ela caiu nos encantos de um ser da noite... -qq

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  6. Cheio dos sarcasmos o vampiro Dimitri. Tinha de cair, afinal, vampiros são sedutores por natureza.

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  7. Mesmo não me interessando muito por historias de vampiros estou me empolgando com a narrativa.

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  8. Tadinho do Max :/ rsrsrs mto bom, dá medo

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