Boa noite leitores!
Trago aqui para vocês a quarta parte do meu conto Tempos Modernos! Para quem ainda não teve a oportunidade de ler as outras três partes, estou disponibilizando através dos links abaixo essas partes:
Tempos Modernos Parte 1
Tempos Modernos Parte 2
Tempos Modernos Parte 3
Boa leitura a todos.
Autor: Leon S. Vellasco
Twitter: @Lucianovellasco
Tempos Modernos
IV – Os Falsos
- Será um sonho? – Ela perguntou-se pela
enésima vez enquanto vestia-se. – Um vampiro de verdade... não acredito que
eles existem mesmo! – e um sorriso abobalhado brotou em sua face.
Agora,
devidamente vestida, Jessica esperava pelo vampiro sedutor e seu namorado
idiota. Não iria perdoá-lo por tê-la abandonado em um cemitério, nua e a vista
de um cara que eles desconheciam por completo. A verdade era que ela não estava
nem aí para ele. O cara era popular, bonito e forte, o sexo era bom, mas
somente isso e nada mais. Não era inteligente, não era nada esperto e o
principal: ele não gostava do que ela gostava. Claro que ele jamais gostava de
acompanhá-la ao salão de beleza ou ao shopping para fazer compras, isso até que
Jessica podia relevar. Max não gostava nem um pouco de sua paixão pelo romance
sobrenatural. Os romances entre vampiros e humanos, anjos e humanos e demais
seres feéricos eram tudo para a garota, e Max achava aquilo muito esquisito.
Ele não ia às reuniões do fã clube nem amarrado. Já até arranjou confusão com
os amigos dela por ciúmes besta. Então que ele fosse embora. Foda-se. Ela
acabara de conhecer um vampiro de verdade! As amigas... ahhh... as amigas. Irão
morrer de inveja quando descobrirem!
Ficou
corada com o pensamento.
Ela
queria saber mais sobre ele, muito mais. Será que o que diziam sobre eles era
verdade? Bom, ao menos havia comprovado que eles dormem em caixões e sentiam o
cheiro de sangue. Será que ele tinha medo de cruz? Derretia com água benta?
Possuía superforça? Provavelmente sim. Para levantar a tampa de concreto
daquele caixão, uma pessoa deveria ser superforte. Jessica pegou o celular do
bolso e acionou um aplicativo que ligava a mini lanterna e direcionou o feixe
para o interior do caixão. Ele estava no meio da cripta, quase que isolado de
todo o restante do lugar. Se Jessica fosse perita na confecção e estudo de
mausoléus, tumbas e demais locais de sepultamento, diria que o caixão tinha uma
cor quase dourada, proveniente da madeira teca usada em sua confecção. Os
entalhes feitos na madeira brilhavam levemente com uma cor acobreada, sendo
perceptível para alguém que entenda dessas coisas um padrão decorativo feito à mão.
O caixão era todo em madeira sólida, com o mesmo padrão de desenho no tampo e
nas laterais, a divisa entre tampo e lateral feita por uma faixa entalhada em
latim, numa cor de ouro em um tom mais escuro. Jessica notou, ao olhar com mais
atenção, que a seda roxa cobria todo o seu interior, sendo mais almofadada no
fundo como um travesseiro. Aparentava ser novo, como se recém-fabricado. Ela
então ficou imaginando qual a idade daquele vampiro e há quanto tempo ele
estaria ali deitado. Outras tantas perguntas atropelavam-se em sua mente quando
uma voz sinistra e ao mesmo tempo sedutora irrompeu no aposento:
-
Demorei? – indagou o homem pálido.
Jessica tomou o segundo maior susto de
sua vida. Quando aquele homem havia entrado? Nem mesmo seus passos ela
conseguira notar. O susto foi ainda maior quando viu que ela carregava alguém
no ombro.
-
Max! – exclamou. – Ele está bem?
-
Não se preocupe – pediu o vampiro, o timbre de sua voz era suave, apaziguador.
– Ele está dormindo agora.
Ela
se acalmou. Melhor que estivesse desacordado mesmo, assim poderia conversar mais
a vontade com o vampiro.
O
homem pálido depositou o corpo de Max atrás de seu caixão com um pouco de
cuidado, apenas o suficiente para não assustar sua interlocutora. Precisava de
respostas. Tinha de saber tudo sobre o novo mundo em que acordará.
-
Então, Jessica – aproximou-se dela –, você me disse que estávamos no ano de
2012.
-
Sim – afirmou em êxtase. Estava completamente hipnotizada pela beleza feérica do
vampiro.
-
Então eu dormir bastante dessa vez – ele comentou mais para si do que para ela.
-
Quem é você? – ela finalmente conseguiu reunir coragem para perguntar.
-
Ohhh, mil desculpas, doce dama – disse cortês. – Meu nome é Dimitri. Dimitri
LionGate. Descendente de uma nobre família portuguesa.
-
Seu sotaque não se parece com o de um português – ela atreveu-se a comentar.
-
Certamente. Estou vagando por este muito a muito tempo e sua língua nativa não
é um problema. Posso me adaptar rápido aos costumes de um novo território – e de
fato podia. Estava no Brasil a tanto tempo que até mesmo seu sotaque lusitano
havia perdido.
-
Eu tenho tantas perguntas!
-
Terá suas perguntas respondidas em breve – às palavras vieram gentis até os
ouvidos de Jessica e ao mesmo tempo elas passavam a ela um tom de ordem. –
Agora, a pergunta que mais intriga minha mente secular é: como sabe a meu
respeito? Existem outros despertos?
-
Na verdade... – ela hesitou. – Você é o primeiro vampiro que eu conheço.
O
vampiro soergueu as sobrancelhas e olhou fixamente para a garota. Algo ali não
fazia sentido.
-
Mas – ela continuou –, eu leio sempre livros sobre vocês.
-
Livros. Então escrevem contos épicos a nosso respeito nos dias de hoje!
Interessante. Então creio que você leu Drácula
de bram stoker? – e se orgulhava sempre quando lembrava o nome do vampiro
que o transformou.
Ela
fez que não com a cabeça.
-
Não sei de que livro você está falando.
-
Você conhece os vampiros e não conhece o Conde Drácula? – sua voz ainda era
suave e doce aos ouvidos de Jessica, mas ali surgia a voz da frustação.
-
Não. – afirmou. – Você provavelmente dormiu demais e agora não sabe das novas
tendências do mundo. – estava cada vez mais a vontade na conversa. – Veja – ela
abriu o casaco de frio que usava e mostrou a blusa que estava por baixo. Havia
um homem com um topete ridículo e cara pálida abraçando uma mulher, atrás dos
dois ainda tinham mais quatro indivíduos igualmente pálidos.
“Albinismo?” – indagou Dimitri em sua
mente perversa.
-
Quem são esses mortais?
-
São vampiros. Iguais a você.
“Nem se meu pai fornicasse com mil
prostitutas e se meu criador tivesse me mordido mil vezes eu me pareceria com
esses ai.”
- Eu sou do fã
clube deles.
-
Fã clube? – indagou perplexo. – Isso é um clã? Agora meus irmãos escravizam
mortais?
Jessica
não entendeu absolutamente nada do que ele quis dizer.
-
Humm... acho que sim.
Havia
algo muito errado ali para Dimitri. Vampiros viviam escondidos, vivam reclusos
em sua eterna solidão. Estavam condenados a gastar sua imortalidade sozinhos.
Caçando a noite e dormindo ao dia. Num ciclo vicioso que iria se repetir até o
fim dos tempos. Era esse o código. Apesar dos mortais saberem de sua
existência, eles eram poucos e prudentemente deixavam-nos em paz, alguns até
tinham tratados de trégua, pois entendiam sua supremacia e poder a ponto de não
iniciar uma guerra entre as duas raças. Agora isso? Vampiros escravizando os
mortais? Os anciões não deveriam permitir isso. Vampiros não precisavam de
escravos para provar que eram os senhores da noite. Somente bárbaros
escravizavam. Somente os fracos tentavam dominar os outros com o uso da força
bruta.
Dimitri
aproximou-se de Jessica seduzindo-a com o seu andar e ela deixou-se levar. Ela
encostou a mão no rosto do vampiro.
-
Seu rosto é gelado... Exatamente como descrevem nos livros... – e ela mal podia
esperar para contar que teve uma cena dessas de cinema com um vampiro de
verdade.
-
Apenas relaxe. – Ela prontamente obedeceu.
O
vampiro encostou sua unha no pescoço de Jessica e abriu um pequeno talho que
imediatamente verteu sangue. Ele inclinou a cabeça para frente e lambeu o
líquido escarlate. Precisava de um pouco do sangue dela para ativar o seu
poder.
O
sangue das pessoas contém fragmentos de memórias. Quando um vampiro ingere o
sangue de alguém ele toma para si toda a vida de sua vítima. Como em um flash back ele observa todos os passos
do humano desde os primeiros dias até o último dia de sua vida. Era como hoje
em dia digitar a senha do banco de dados e saber tudo sobre a vida dela. Onde
ela morava, o nome de seus familiares, senhas de banco e tudo o mais que
estivesse registrado. A primeira memória acessada pelos vampiros é a última
pensada pelos que tiveram seu sangue drenado. Dimitri vislumbrou um pedaço do
passado de Jessica e em sua mente veio à imagem que queria no momento: livros
de vampiros. Mas não eram os livros que ele tinha em mente, eram outros que ele
nunca havia visto. Havia “vampiros”
na capa. Eles mais pareciam modelos ou figurantes de peça de teatro do que
vampiros de verdade. Uma clara ofensa a sua raça. Ele teve acesso às memórias
dela lendo os livros...
Seu
sangue ferveu.
E
todo o seu ser entrou em uma fúria inumana.
-
O que... você fez? – Jessica indagou vacilante. Mal tinha notado o corte no
pescoço, mas notou o semblante tétrico do vampiro.
-
Apenas acessei suas memórias – a fúria ainda estava lá e ele a controlava com
todas as suas forças, sua vontade era de voar no pescoço da garota
imediatamente. Agora ele entendia tudo. Os vampiros não haviam feito escravos.
Os humanos que estava satirizando os vampiros. Havia uma linha tênue entre
adoração e isso! Os humanos iriam pagar pela afronta.
Jessica
sem entender o que ele havia feito retirou o celular do bolso.
-
Olha – pediu Jessica tirando o vampiro de seus devaneios. Estava a ponto de
estrangular a garota, mas se conteve, queria saber mais sobre esse fã clube. –
O pessoal do fã clube vai se encontrar aqui – no celular dela um ponto vermelho
piscava indicando a localização exata de um endereço.
-
Que espécie de mapa é esse? – e a fúria deu lugar a curiosidade.
-
É um GPS – ela sorriu. – Funciona assim – e ela explicou ao vampiro como se
usava o aparelho e disse que ele mostraria o caminho para quem o estivesse
usando à medida que a pessoa avançava. – Às vezes eu me perco... – informou
meio constrangida.
Agora
ele não precisava mais dela.
Hora
de comer.
-
Você brilha a luz do dia? – ela perguntou e aquela pergunta fez ferver ainda
mais o sangue que havia consumido naquela noite. Havia lido através da memória
dela que havia “vampiros” que não tinham problemas com a luz do sol. Como se os
arcanjos fossem permitir uma coisa dessas! O primeiro foi amaldiçoado pelos
próprios e seria uma afronta à decisão deles haver um vampiro que pudesse
caminhar a luz do dia.
Uma
carranca grotesca tomou conta da face do vampiro, mas ele a escondeu nas
sombras. Essa mortal iria aprender de uma ou duas coisas sobre os verdadeiros
vampiros aquela noite.
-
Acho que poderemos descobrir em breve.
Jessica
olhou para o relógio do celular. 5:20. Em poucos minutos o sol iria aparecer no
horizonte. Seria a prova definitiva que seu sonho de ver a beleza dos vampiros
à luz do dia era real. E não que eles torram no sol como muitos descrentes por
ai dizem. Iria viver seu sonho de princesa.
-
Eu quero descobrir.
-
Ótimo – e aquela foi à primeira vez em sua não vida que ele estava ávido por
ver o sol nascer.
"Ele está dormindo agora" ele esqueceu de dizer o resto -qq
ResponderExcluirAcho que ela devia morrer logo u___ú
Ele só não disse o resto para não assustar a pobre coitada. Se ela morresse logo não teria final. xD
ResponderExcluirMuito bom! Mal posso esperar para ver o que o Dimitri vai fazer com os outros fãs.
ResponderExcluirEle vai matar ela!!!
ResponderExcluirAcho q ele vai gostar da ingenuidade dela
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